O médico Armando Jairo da Silva Martins (Dr. Martins), em foto de arquivo, recebeu duas vezes para realizar o mesmo período de atendimento no Pronto Socorro da Santa Casa de Cambé. |
A
análise de algumas escalas de plantão do Pronto Socorro da Santa Casa de Cambé
mostram que o médico Armando Jairo da Silva Martins (Dr. Martins) recebeu
dobrado para realizar dois tipos de plantões simultâneos em pelo menos 21 dias
de cinco meses de 2011, e outros 15 dias de dois meses de 2012, analisados pela
reportagem do CAMBÉ DE FATO.
Primeiro,
é bom esclarecer que o médico Armando Jairo da Silva Martins (Dr. Martins) faz
dois tipos de plantão no Pronto Socorro da Santa Casa de Cambé: o de Clínica
Geral e o de Ginecologia e Obstetrícia.
O
diferencial é que Dr. Martins repetidas vezes nos últimos meses esteve
respondendo pelos dois tipos de plantão ao mesmo tempo (simultaneamente) e
ganhando dobrado, ou seja, dos dois tipos de plantão para atender o público em
um único horário.
O
fato foi percebido pela Secretaria Municipal de Saúde, que faz o acompanhamento
da utilização dos recursos repassados pela Prefeitura para a manutenção do
Pronto Socorro da Santa Casa. Em ofício datado de 27 de fevereiro de 2012, a
secretária Alessandra Garcia Vaz notifica a diretora administrativa da Santa
Casa de Cambé que Dr. Martins havia feito plantões simultâneos nos dias 07, 11,
14, 17, 18, 21, 22, 24, 25 e 28 de novembro de 2011. Ou seja, em um a cada três
dias do mês, o médico fazia plantão simultâneo de Clínica Geral e
Ginecologia/Obstetrícia, recebendo pelos dois ao mesmo tempo. “Esta é uma
situação grave em desacordo com a orientação do Conselho Regional de Medicina,
por que expõe os pacientes a possíveis situações de risco pela impossibilidade
ao único médico de prestar atendimento adequado em situações emergenciais
simultâneas”, diz o ofício que solicita providências urgentes por parte do
hospital.
Detalhamento - O CAMBÉ DE FATO
pesquisou nos meses de abril, junho, setembro, outubro e novembro de 2011 e nos
meses de março e abril de 2012.
No
dia 08 de abril, Dr. Martins iniciou plantão de Clínica Médica no Pronto
Socorro da Santa Casa as 7h00 e foi até às 19h00. Ao mesmo tempo, no mesmo dia,
ele fez plantão de Ginecologia e Obstetrícia das 7h00 às 13h00. Ou seja, neste
período, Martins recebeu plantão dobrado. O mesmo aconteceu das 7h00 do dia 27
de abril até às 19h00 do mesmo dia, onde ele fez os dois plantões ao mesmo
tempo durante 12 horas.
Já
em junho nos dias 10 e 27 o mesmo médico dobrou novamente o plantão e o
recebimento. No dia 10 de junho de 2011, ele fez os dois plantões (G.O e
Clínica Médica) das 7h00 às 19h00, ou seja por doze horas seguidas. No dia 27,
dobrou plantão (G.O. e Clínica Médica) das 7h00 às 13h00.
Em
setembro de 2011 a situação se repetiu com um agravante: Dr. Martins fez, no
dia 12, ao mesmo tempo um plantão de 30 horas seguidas na Clínica Médica (das
7h00 do dia 12 até as 13h00 do dia 13) e, ao mesmo tempo, das 7h00 do dia 12
até as 19h00 do mesmo dia, fez plantão de Ginecologia e Obstetrícia. Ou seja, o
médico fez 30 horas ininterruptas de plantão e recebeu 42 horas, isto no mesmo
espaço de tempo.
Em
outubro de 2011 a situação de dobra se agrava ainda mais. São quatro dias no
mês com dobra de plantão e de vencimentos. Nos dias 17, 20, 24 e 31, o médico fez os dois plantões, ao mesmo tempo
entre as 7h00 e às 13h00.
Em
novembro foram onze dias de plantão dobrado. No dia 07, Dr. Martins fez plantão
de Ginecologia/Obstetrícia das 7h00 às 19h00 e, ao mesmo tempo, o de Clínica Médica das 7h00 às 11h15 e das
13h00 às 20h30. No dia 11, os dois plantões aconteceram entre as 7h00 e as
13h00. No dia 14, Martins fez os dois plantões das 7h00 às 19h00. No dia 17, novamente os dois
plantões das 7h00 às 13h00 e no dia seguinte, 18, novamente plantões e
recebimentos dobrados das 7h00 às 19h00, ou seja, por 12 horas seguidas. No dia
21 de novembro de 2011, Dr. Martins bateu o recorde: ficou nos dois plantões
(G.O. e Clínica Médica) das 7h00 até as 7h00 do dia seguinte, fato relatado
pela Secretaria de Saúde em ofício à Santa Casa.
Nos
dias 22, 25 e 28, Martins novamente dobrou os plantões das 7h00 às 13h00. No
dia 24 de novembro, a dobra aconteceu somente entre 13h00 e 14h00.
Já
nos dois meses de 2012 pesquisados pelo CAMBÉ DE FATO, Dr. Martins teve 15
dobras de plantões, isto mesmo depois de a Santa Casa ter sido notificada que
deveria impedir a ocorrência das dobras
de plantão do médico.
Em
março, houve dobras nos dias 01 (das 7h00 às 10h00), 08 (das 7h00 às 9h00), 09
(das 7h00 às 10h00), 16 e 29 (das 7h00 às 13h00) e 30 e 31 (das 7h00 às 10h00).
Em abril, ele dobrou plantões e vencimentos nos dias 05, 06 e 10 (das 7h00 às
10h00); 12, 20, 26 e 27 (das 7h00 às 13h00) e 19 (das 7h00 às 9h30).
Pode
ser maior
- Importante ressaltar que a pesquisa feita pelo CAMBÉ DE FATO não foi
sistêmica, pinçamos aleatoriamente apenas cinco meses de 2011, e dois de 2012,
para ilustrar a prática (que já era conhecida por boa parte da cidade) de pagar
dois plantões (ou duas especialidades) para um médico atender o público do SUS
em um único horário.
As
escalas de plantão foram conferidas com as planilhas de pagamento da Santa Casa
onde está provado a duplicidade de pagamento.
Por
outro lado, caso seja feita uma pesquisa em todas as escalas de plantão dos
últimos anos, certamente os números serão maiores.
Quem
perde, quem ganha
- A Santa Casa de Cambé recebe subvenção
da Prefeitura para pagar três médicos de plantão ao mesmo tempo (um clínico
geral, um ginecogista/obstetra e um pediatra). Isto acontece para que o
atendimento seja feito para todo tipo de ocorrência e também para que o tempo
de espera não seja excessivamente longo. Quando um médico recebe dobrado para
fazer dois plantões ao mesmo tempo (como foi o caso aqui relatado), um dos
públicos (o de clínica médica ou as gestantes) vai ficar esperando, quando
poderia, com o mesmo dinheiro, haver outro médico atendendo a população.
Por outro lado, quem ganha é o médico, que recebe duas
vezes para realizar o mesmo período de atendimento.
Outro lado- A respeito da dobra de plantões do citado
médico no Pronto Socorro, a diretora Administrativa da Santa Casa de Cambé,
Isabel Aparecida da Silva negou que a prática ocorra. “Nesse momento isso é
mentira. Quem tem que provar é quem acusa. Estamos em ordem”, disse Isabel ao
CAMBÉ DE FATO.
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