Amadeu Bonato, técnico do Deser (Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais) diz que pressão das fumageiras faz Anvisa recuar e adiar proibição de aditivos no cigarro.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o consumo de cigarros aromatizados entre adolescentes brasileiros de 13 a 15 anos e entre adultos e jovens entre 17 e 35 anos chega a 44%. Embora se comprove cientificamente que o uso de aditivos é mais nocivo aos fumantes que o consumo do cigarro comum, pois libera maior quantidade de nicotina livre e potencializa o impacto dessa substância nos centros nervosos do cérebro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) adiou do dia 14 de fevereiro para a reunião do Colegiado no mês de março a decisão sobre a proibição de aditivos nos cigarros, como açúcares, aromatizantes e flavorizantes (menta, canela, cereja, chocolate, baunilha, entre outros), fruto da Consulta Pública de nº 112/10, realizada no ano passado. A agência alegou ter dúvidas com relação ao texto a ser publicado, que há mais de dois meses está em poder desse colegiado.
A proibição é recomendada pelos artigos 9º e 10º da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco (CQCT) – acordo firmado por 168 países desde 2005 e que prevê a realização de ações visando a redução gradativa da demanda e do consumo de fumo no mundo todo. Essas medidas de proteção à saúde dos fumicultores, consumidores de cigarro e ao meio ambiente passam pela regulamentação dos conteúdos dos produtos e também pela regulamentação da propaganda e da divulgação de informações sobre os derivados do tabaco.
A adição de sabores e açúcar mascara o gosto desagradável do cigarro, aumentando as chances de vício, sobretudo entre jovens. A cada dois que experimentam, um se torna dependente. O Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais (Deser) denuncia que por trás desse recuo da Anvisa está a pressão das indústrias fumageiras, que lucram fortunas todos os anos com a venda de cigarros e seus derivados. Somente a Souza Cruz, apresentou um lucro líquido de R$ 1,4 bilhões em 2010 e de R$ 1,6 bi em 2011, um aumento de 10,5% com a atividade no Brasil. Outra indústria de peso nesse lobby é a Phillip Morris, que em 2010 lucrou mais de US$ 20 bilhões com a venda de cigarros no mundo todo. “A argumentação de que a sobrevivência de mais de 50 mil famílias produtoras de tabaco seria prejudicada e de que haveria prejuízos econômicos consideráveis ao setor fumageiro é falsa”, rebate o técnico do Deser, Amadeu Bonato. Ele compara essa linha de raciocínio com a mesma encenação da época da provação da CQCT, em 2005, quando a indústria do tabaco e seus aliados diziam que a Convenção iria proibir a produção de fumo no Brasil. “Desde então, passaram-se seis anos e a produção de tabaco até aumentou. Mais uma vez, a indústria tabagista demonstra que seu interesse é o da ganância pelo lucro e isso fala mais alto que os prejuízos com a doença, a dependência e a exploração no setor”, completa.
O questionamento levantado pelo técnico do Deser nos remete a uma realidade assustadora e que esclarece o porquê da pressão das indústrias para não perder a fatia generosa de jovens consumidores: “quem irá substituir os mais de 200 mil fumantes que morrem todos os anos no Brasil”?
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