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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Descoberta arqueológica: ruínas da Missão Jesuíta de San Joseph estão em Cambé

Do CAMBÉ DE FATO: 

Cláudia Parellada
Cláudia e as autoridades de Cambé
 “Nesta apresentação faço a comunicação oficial da descoberta da localização da Redução Jesuítica de San Joseph. Ela está na zona rural do município de Cambé”. Foi com esta frase histórica que a arqueóloga do Museu Paranaense, Cláudia Inês Parellada abriu a parte mais importante de sua apresentação durante a 9a. Reunião de Antropologia do Mercosul - RAM, realizada na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba de 10 a 13 de julho. O anúncio da descoberta das ruínas de San Joseph contou com a presença de autoridades municipais, entre elas, o prefeito João Pavinato. “É muito importante a disposição do município em adotar medidas de preservação do sítio arqueológico para permitir futuros estudos”, declarou Cláudia Parellada. A arqueóloga virá à Cambé no início de agosto, para orientar e coordenar os trabalhos técnicos no local onde existiu a Missão San Joseph. 


Um pouco de história - Na época da colonização do Brasil, o território do atual estado do Paraná (exceto o litoral), pertencia à Espanha, graças ao tratado de Tordesilhas, e era conhecido como Província del Guairá.  “Na Província del Guairá, nos séculos 16 e 17,  houve resistência guarani à ocupação européia e o receio do aumento dos conflitos acelerou a criação, com apoio da Espanha, de quinze missões jesuíticas fixas no Guairá, entre 1610 e 1628”, diz Claudia Parellada. O conflito citado pela arqueóloga acontecia em função das Entradas e Bandeiras, feitas por paulistas dentro do território espanhol, para capturar indígenas como mão de obra escrava para as lavouras de cana-de-açúcar.  
Entre as quinze reduções, estava a Missão Jesuítica de San Joseph, que foi fundada em 1625, no local onde atualmente é a fazenda Santa Dalmácia, a 27 quilômetros do centro de Cambé. “Em 1625 os padres espanhóis Montoya e Mascetta decidiram fundar uma missão que ficasse no meio do caminho, por terra, entre as missões de Santo Ignácio e Loreto, no vale do Paranapanema, e a de San Javier, erguida junto ao rio Tibagi”, diz Claudia Parellada. “San Joseph foi criada com cerca de 200 famílias, de seis aldeias diferentes, e lá permaneceu o padre Mascetta para construir o templo e as casas e administrar os sacramentos”, cita a arqueóloga.


A Missão desaparecida - O dado que ressalta a importância da descoberta é que a localização exata da Missão de San Joseph era desconhecida. “Sabia-se que (a Missão de San Joseph) poderia estar próximo ao Rio Vermelho, nos municípios de Sertanópolis, Bela Vista do Paraíso e Ibiporã”, afirma César Cortez, diretor do Museu Histórico de Cambé. Ele também presenciou o anúncio juntamente com a  secretária de Cultura Arísia Mendes Gonçalves, com o secretário de Governo Luiz Cesar Lazari e professor e historiador José Garcia Gonzáles Neto.


Definição do local - Cláudia Parellada explicou os pontos que levaram a concluir que o sítio arqueológico da Fazenda Santa Dalmácia é o local da Redução de San Joseph. “Em primeiro lugar a característica das cerâmicas encontradas no local em escavações anteriores, com decoração com influência européia, característica daquele período”, diz Cláudia, citando que a dimensão do sítio arqueológico também é outro ponto de reforço da tese. “Temos também a cartografia da região, dos séculos 17 e 18, mas a definição ocorreu devido a imagens de satélite”, diz a antropóloga, referindo-se a pesquisas feitas com imagens de satélite do local, que revelaram as fundações da antiga cidade.  


A primeira descoberta - Em 1990 o Museu Histórico foi notificado da ocorrência de indícios arqueológicos na Fazenda Santa Dalmácia, no Norte do município, perto do Córrego Palmeira e à margem direita do Rio Vermelho. A notificação foi feita por alunos da Escola Rural Municipal Fazenda Santa Dalmácia. Funcionários do Museu Histórico foram ao local e constataram a possibilidade de um sítio arqueológico de grande dimensões e muitas amostras cerâmicas. Por isso os arqueólogos Miguel Gaissler e Oldemar Blasi foram convidados a desenvolver trabalhos sistemáticos ainda em 1990, quando se concluiu que uma população indígena, da cultura tupi-guarani, esteve no local e ali teve como uma forte atividade de produção de material cerâmico.


Em 1998 o Museu de Cambé firmou convênio com a Universidade Estadual de Londrina, onde o Laboratório do Departamento de Artes, sob a responsabilidade da professora Maria Scherlowski, com a consultoria do Museu Paranaense, analisou os cerca de quatro mil fragmentos coletados na Fazenda Santa Dalmácia como parte do Projeto Cerâmica Indígena: Recuperação e Memória. Também foi desenvolvido o projeto caracterização de cerâmicas do sítio arqueológicos da tradição tupi-guarani Fazenda Santa Dalmácia, por métodos nucleares não destrutivos, coordenado pelo professor Carlos Roberto Apoloni.
Paralelamente, a arqueóloga do Museu Paranaense, Cláudia Parellada, iniciou a pesquisa de identificação do material recolhido e visitou a área do sítio arqueológico. Esse trabalhou culminou com a conclusão de que o Sítio Arqueológico da Fazenda Santa Dalmácia é o local onde se existiu a Missão San Joseph.


A importância para a história- A descoberta do local da Missão é um fato importante para o mundo da arqueologia e para a história. “A descoberta pode trazer informações importantes para a compreensão da relação entre os missionários jesuítas e os indígenas e pode revelar como foi o processo de ocupação da região e qual era a dinâmica dessa ocupação”, afirma Claudia Parellada. “A descoberta reescreve a história da colonização de Cambé e do norte do Paraná”, lembra José Garcia Gonzales Neto. “É uma parte da história do Paraná que estava sepultada e está sendo revelada”, concorda Cláudia Parellada. 

Segundo os estudos, a Missão Jesuíta de San Joseph foi  totalmente destruída por bandeirantes paulistas a serviço da corôa  portuguesa, entre os anos de 1629 e 1631.

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