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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Santa Casa nega atendimento a gestantes por falta de médicos

Do Caderno Especial SANTA CASA DE CAMBÉ, do Jornal CAMBÉ DE FATO: 


“Não me examinaram e nem olharam para minha cara. A única coisa que fizeram foi mandar eu para casa com dor”. Esse é o relato de Débora Batista da Silva da Conceição, uma das gestantes que teve atendimento negado pela Santa Casa de Misericórdia de Cambé nos últimos quinze dias. Mãe e bebê tiveram uma gestação e um pré-natal tranquilo, até o dia do nascimento do pequeno Brian Miguel. “Foi uma correria. Chegamos a Santa Casa e nos disseram que não tinha médico e mandaram a gente para o posto 24 horas”, explica Débora. Indignado, José Cássio da Silva da Conceição, pai de Brian e marido de Débora, conta que no posto 24 horas recebeu atenção no tratamento de sua esposa grávida, porém na Santa Casa o tratamento foi bem diferente. “Dou nota zero. Fomos mal recebidos. Chegamos até lá e eles não quiseram nem olhar na nossa cara e mandaram a gente voltar para o Posto de Saúde. A minha esposa já estava sentindo as contrações para ganhar o bebê. Eles não atenderam a gente e voltamos para a Unidade Básica de Saúde 24 horas. De lá fomos encaminhados para a Maternidade Municipal Lucilla Ballalai, em Londrina. A Santa Casa nos disse que não tinha obstetra para nos atender. Não consultaram minha esposa e já mandaram a gente embora”, relata José Cássio. Mãe e bebê passam bem agora, mas correram risco por conta da recusa de atendimento da Santa Casa.


R$ 1.090 para atendimento particular -  Outro caso de desamparo é o da menor Jéssica de 17 anos. “Fui até a Santa Casa e fui maltratada pelos funcionários. Estava grávida de dois meses, mas tive aborto espontâneo. O bebê ainda está retido em meu corpo. A Santa Casa disse que não ia fazer nada por mim e que era para me virar porque lá não tinha médico. Disseram que era para eu procurar atendimento em Rolândia ou em Londrina, ou simplesmente pagar R$ 1.090,00 para ser atendida pelo médico particular do hospital. Se eu tivesse esse dinheiro, amanhã mesmo seria atendida. Achei o cúmulo. Eles não podem negar atendimento”, ressalta Jéssica. “Como não estou sangrando e com dores de cabeça constante, não corro riscos. Senão, terei que ir novamente à Santa Casa para ser encaminhada para outro lugar novamente e ser tratada como um cachorro”, lamenta a menor. Jéssica foi encaminhada ao posto 24 horas, onde foi recebida pelos profissionais. “Fui muito bem atendida, fiz ultrassom e tratamentos que competem a Unidade Básica de Saúde”, diz a jovem.
Os dois casos citados retratam a difícil  vida de gestantes que precisaram do atendimento da Santa Casa de Cambé, único hospital a atender pelo SUS na cidade e referência nos casos de gravidez.  Histórias parecidas se repetiram com maior ou menor gravidade na triagem do hospital.

Secretaria de Saúde esclarece - A secretária de Saúde Alessandra Garcia Vaz lembra que a Santa Casa de Cambé não é um hospital público e não está subordinado à Prefeitura de Cambé. “A Santa Casa é um hospital filantrópico, administrado por uma instituição particular sem fins lucrativos, onde a Prefeitura não tem nenhuma participação na administração, mas repassa uma quantia mensal para que o hospital pague os plantões de médicos no Pronto Socorro”, esclarece Alessandra Vaz. A quantia (R$ 175 mil mensais), segundo Alessandra, é suficiente para a contratação de médicos para o Pronto Socorro (veja mais sobre a subvenção repassada pela Prefeitura para a Santa Casa nas páginas centrais deste caderno) e que não há justificativa para a falta de ginecologista/obstetra no plantão presencial do Pronto Socorro da Santa Casa. “Notificamos o hospital para que retorne o plantão de Ginecologia/Obstetrícia imediatamente e atenda todas as gestantes”, informa Alessandra Vaz., lembrando que o assunto também foi levado ao conhecimento da 17a. Regional de Saúde, vinculada ao Governo do Estado e ao Ministério Público local.

Outro lado - O CAMBÉ DE FATO tentou, sem sucesso, falar com o diretor clínico do hospital, Dr. Antonio da Silva Freitas. Em seu lugar, falando pelo hospital, a diretora administrativa Isabel Aparecida da Silva declarou que a falta de médicos acontece por conta dos salários e propostas de emprego que estes profissionais recebem. “Conseguimos repor os médicos que saíram. Contratamos anestesista, pois sem ele, o obstetra não faz plantão. Recebemos verbas da Prefeitura de Cambé e do Governo do Estado, que está atrasada, porém hospital é complexo. Os medicamentos são caros”, diz a diretora Isabel. Ela também afirma que as condições de atendimento à gestante do hospital estão normais: “Somente um dia a Santa Casa não atendeu as gestantes. É mais fácil nós encaminharmos do que a pessoa ir direto para Londrina”, declarou Isabel da Silva. 

Unidade Básica de Saúde 24 horas fica congestionada e faz até parto

A Unidade Básica de Saúde 24 horas. viveu momentos difíceis no último final de semana com a recusa da Santa Casa de Cambé em atender as gestantes que procuravam o hospital e, ao mesmo tempo, encaminha-las para a Unidade Básica de Saúde 24 horas. Segundo Marcelo Ascêncio, enfermeiro chefe da Unidade, o posto atendeu, de sábado, dia 11, até segunda, dia 13, quinze gestantes, do qual duas tiveram o bebê no posto de saúde. As demais foram reguladas, ou seja, transferidas para maternidades de Rolândia e Londrina. “Se uma criança nasce aqui com algum problema de saúde, pode até ir a óbito, porque aqui não tem os recursos de uma maternidade. Nosso pronto socorro é de urgência e emergência para atender crianças e adultos, mesmo assim, temos uma equipe preparada e conseguimos realizar os dois partos e amparar a vida de mãe e filho”, relata o enfermeiro.
Marcelo relatou o drama passado pela família de um bebê nascido na segunda-feira, dia 13: “A mãe chegou até a porta da Santa Casa que estava fechada com cadeado. Ela estava com a bolsa rota (estourada) com aproximadamente dez centímetros de dilatação, ou seja, quantidade máxima para o bebê nascer. Ela não foi atendida e o hospital indicou o Posto 24 horas. Nessa circunstância, a mãe poderia ter ganhado o bebê dentro do carro do marido, o que poderia até ter ocasionado a morte da criança. Graças a Deus mãe e filho passam bem”, diz Marcelo Ascêncio.

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